terça-feira, 17 de julho de 2012

O RESULTADO DO GOVERNO LULA...





Ontem começou em casa uma nova trabalhadora, que mora em São Miguel Paulista, quando perguntei para ela quanto tempo ela levou para chegar na minha casa, ela me respondeu " 2 h30 ".
Aí me veio a cabeça a análise muito bem feita do estudante Leandro Machado, estudante de letras da Universidade Federal de São Paulo, classe C!

Fico pensando, será que o governo Lula, foi tão bom mesmo??? O que será melhor para o trabalhador??? Transporte? Trabalho? Educação? Saúde? Segurança?

Quem poderá me responder???


LEANDRO MACHADO
De repente, classe C
Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar
Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.
Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.
Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.
(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)
A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.
Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.
Ou seja, ao mesmo tempo em que todos querem me atingir por meu razoável poder de consumo, passo por perrengues do século passado. Eu e mais de 30 milhões de pessoas -não somos pobres, mas classe C.
Deixa eu terminar por aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Logo eu, que só li Marx na versão resumida em quadrinhos. Fazer o quê, se eu gosto é de autoajuda?
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.debates@uol.com.br
LEANDRO MACHADO, 23, é estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo, mora em Ferraz de Vasconcelos (SP) e escreve no blog Mural, da Folha

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/54594-de-repente-classe-c.shtml

sexta-feira, 13 de julho de 2012

EU BEBI SIM!!!





Só quem bebeu como bebi, vai entender a coluna que reproduzo na íntegra. O assunto também é para pais, filhos, maridos, mulheres, amigos, companheiros e conhecidos de alcoólatras.

Boa leitura!


" BARBARA GANCIA
Um convite a Contardo Calligaris

Alguém consegue explicar a má vontade dos médicos tapuias em relação aos Alcoólicos Anônimos?

A COLUNA do Contardo Calligaris de ontem, que menciona seu amigo alcoólatra esti­mulado a voltar a beber pela mulher foi um clássico. Um clássico equívoco a ser evitado.
Costumo ler o Contardo de joe­lhos. Mas não ontem. Ali ele trivia­lizou um assunto que não só conhe­ço bem, como sou testemunha diá­ria dos efeitos devastadores que produz, inclusive pela negligência com que é tratado. Não dá para en­tender a má vontade dos profissio­nais do país com os Alcoólicos Anô­nimos, uma irmandade reconheci­da no mundo todo pelos excelentes serviços que presta.
O texto de Calligaris me remeteu ao hepatologista de Tarso de Cas­tro, que chegou ao cúmulo de libe­rar o jornalista, dependente, para tomar uma taça de vinho ao dia.
Não sou especialista, apenas al­guém que padece de uma doença que a Organização Mundial da Saú­de define como "incurável, pro­gressiva e mortal". E posso atestar que o texto serviu de luva para rea­firmar o propósito de que proble­mas relativos ao álcool devem ser tratados dentro da sala dos Alcoóli­cos Anônimos, bem longe do divã do psicanalista.
Veja. Quem conhece minima­mente os 12 Passos dos AA sabe que o programa não oferece garantias. Mas, a dada altura, por negligência ou mero infortúnio, Contardo diz o seguinte: "O homem frequentou os AA e deu certo". Ora, para nós, membros dos AA, ao contrário, o programa funciona, se muito, "só por hoje", nunca "dá certo", inexis­te esse conceito. Eu posso voltar à ativa daqui a 20 minutos, corro esse risco, é da natureza da doença.
Um dos maiores predicados dos AA, inclusive, é esse. O de me colo­car o tempo todo no presente para que eu consiga reduzir a angústia que a lembrança do passado me traz e diminuir a ansiedade que o peso do futuro pode vir a me causar.
Mas de que importa a filosofia dos AA? Bom mesmo é teorizar, não é para isso que serve psiquiatra? Cal­ligaris menciona ainda que, acon­selhado pelo seu grupo, o su­jeito passou por uma "internação de um ano". De onde tirou um ab­surdo desses, só Deus sabe. Inter­nação longa nos AA? Em 20 anos de Alcoólicos Anônimos nunca vi essa picaretagem. Aliás, é cada vez mais comum no país a prática criminosa da internação longa que isola o de­pendente da família e coloca o mé­dico como intermediário todo-po­deroso, sem que ninguém fiscalize.
Adoro ler o Contardo, ele me ex­plica muitas coisas. Mas não me ex­plica tudo. A psicanálise é aleijada da dimensão espiritual, um cami­nho muito indicado, senão impres­cindível, para alguém como eu, que produz pouca endorfina, dopami­na e outros opiatos naturais por conta dos anos que passei maman­do destilados. Jung já advertia so­bre isso a Bill e Bob, os dois sujeitos que fundaram os Alcoólicos Anôni­mos. Está documentado.
Fico me perguntando a quem Cal­ligaris refere os casos mais graves de dependência. Não gosto nem de pensar na resposta. Em todo caso, uma atividade não interfere na outra, não é mesmo? O colunista é um, o médico é outro. Vamos dei­xar assim.
E deixar também um convite para que o amigo Contardo venha assis­tir a qualquer próxima edição que eu for dar da palestra "Do Fundo da Garrafa ao Domínio da Minha Vi­da", em que conto um pouco sobre meu trágico envolvimento com o álcool e como consegui sair desse inferno. Quem sabe ele não se ani­ma a vir conhecer uma sala dos AA por dentro? Só por hoje. Funciona.
barbara@uol.com.br
@barbaragancia "